Apenas a metade dos treze candidatos à presidência no primeiro turno tinha medidas para combater o abandono das escolas pelos alunos; no segundo, o tema é esquecido novamente
Ao final de cada ano, cerca de 27% dos jovens brasileiros de 15 a 17 anos deixa de frequentar a escola. O número, que corresponde a ¼ dos alunos (2,8 milhões de pessoas), foi observado no estudo “Políticas públicas para redução do abandono e evasão escolar de jovens”, de autoria do pesquisador Ricardo Paes de Barros, do Gesta – Galeria de Estudos e Avaliação de Políticas Públicas. Mas a situação, ainda que alarmante, não foi lembrada por metade dos candidatos à presidência nas eleições 2018.
Os programas de governo apresentados pelos candidatos no início das campanhas, ainda que contemplassem a educação, trataram pouco ou quase nada sobre a evasão escolar. Das doze candidaturas, seis sequer mencionaram o assunto; outras quatro se ativeram apenas parcialmente, citando o termo dentro de suas propostas para a área de educação. E apenas uma, a de Ciro Gomes (PDT), tratou a evasão escolar como mote de um programa social.
Primeiro turno, poucas propostas
Dentre os presidenciáveis que citaram a evasão escolar, a maioria o fez dentro do plano geral para a educação, como Álvaro Dias (Podemos), que prometeu “100% de alunos no Ensino Integral até 2022”. Outros, como Guilherme Boulos (PSOL) e Cabo Daciolo (Patriotas), apenas apontaram, vagamente, “políticas para acesso à educação e para evitar a evasão”.
Segundo o programa de governo de Ciro Gomes (PDT), a proposta do candidato seria a criação de “um programa-piloto que envolva o pagamento de bolsas de estudo aos alunos que tiverem frequência mínima e melhorarem seu desempenho ao longo do tempo e, se o piloto for bem-sucedido, iremos estendê-lo aos poucos para a rede de Ensino Médio”. O ex-ministro também demonstrou conhecer os números da evasão e citou “premiações” como forma de incentivar a permanência dos alunos até a conclusão da última fase da educação básica.
Uma ideia semelhante foi sugerida, em entrevistas, pela candidata Marina Silva (REDE) – um programa chamado Renda Jovem, de suporte a estudantes do Ensino Médio (até 19 anos) e que fossem atendidos pelo Bolsa Família. De acordo com Marina, a ideia seria depositar até R$ 3,7 mil para cada estudante a fim de conter a evasão escolar. A candidata, porém, não fez a proposta por escrito, em detalhes, em seu programa de governo.
Já candidatos como Henrique Meirelles (MDB), João Amoêdo (Novo), João Goulart Filho (PPL), José Maria Eymael (DC) e Vera Lucia (PSTU) sequer mencionam a evasão escolar em seus programas de governo.
Segundo turno
Jair Bolsonaro (PSL) – líder nas pesquisas eleitorais por quase toda a disputa – é um dos candidatos que não citou a evasão escolar em seu programa de governo. Para o segundo turno, o assunto também não chegou a ser mencionado em reportagens ou entrevistas.
Fernando Haddad (PT) tem no programa uma indicação apenas de que “o governo dará atenção especial ao Ensino Médio”. O candidato disse em entrevistas que abraçaria algumas propostas de Ciro Gomes em seu programa (mas não indicou se seria exatamente o programa contra o abandono escolar).
O que afasta os jovens da escola
14 fatores de desengajamento escolar identificados pelo estudo e o Gesta estão a gravidez precoce, o acesso limitado aos locais de ensino, pobreza e necessidade de trabalhar cedo demais, a violência.
Tratar do problema é importante porque a evasão escolar tem um impacto significativo no futuro pessoal e profissional dos brasileiros – e, de acordo com a pesquisa, um custo social de US$ 100 bilhões.
Entre as pessoas que têm e as que não tem Ensino Médio completo, a diferença de perspectiva é determinante. Ao atingir 35 anos, brasileiros que concluíram o Ensino Médio têm 77% de chance de ter uma ocupação formal – contra apenas 50% dos que não finalizaram o curso. Sobre a renda mensal per capita, são R$ 1.425 para quem termina o segundo grau contra R$ 643 para quem não termina.
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O GESTA, Galeria de Estudos e Avaliação de Políticas Públicas, é uma plataforma destinada a avaliar questões públicas emergenciais de maneira profunda para formular iniciativas eficazes, embasadas e conscientes.
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